terça-feira, 5 de abril de 2011

Psicanálise e Maternidade.. Parte II





Winnicott (apud Nasio,1995) enfatizou a figura da mãe como a principal fonte formadora da estruturação psíquica do sujeito nos primeiros tempos de vida. Acreditava na influência do ambiente no desenvolvimento psíquico do individuo. Para ele, o ambiente inicialmente representado pela mãe, ou sua figura substituta, permite ao sujeito um desenrolar do processo de maturação, que significa a formação e evolução do ego e do superego, assim como o estabelecimento dos mecanismos de defesa.
O autor descreveu duas fases iniciais da vida do sujeito, onde a mãe ou sua figura substituta possuem fundamental importância. A primeira fase vai de zero a seis meses de idade, onde a criança encontra-se em uma fase de dependência absoluta em relação ao meio, que neste momento é representado pela figura materna. Neste momento inicial para a criança, ela e o meio (mãe) não se diferem, são uma unidade, uma coisa só. Nesta fase de dependência absoluta, o bebê necessita de uma mãe que dê o suporte necessário para o nascimento e desenvolvimento das principais funções do eu. Quando o bebê não possui esta mãe, ou é privado dela, a maturação do desenvolvimento de seu eu, se apresenta de forma bloqueada ou distorcida. Após este período inicial, entra então a segunda fase, que vai dos seis meses de
vida até os dois anos de idade, onde a criança encontra-se em um período de dependência relativa e já é capaz de se dar conta da necessidade que tem dos cuidados de sua mãe.
O autor acima referenciado definiu como mãe suficientemente boa, aquela mãe que consegue estabelecer com seu bebê nos primeiros tempos de vida, uma identificação com ele, adaptando-se a suprir as necessidades de seu filho.
Nesse aspecto de suficientemente bom, inclui-se não só a mãe, mas a situação satisfatória ou não para a criança.


Essa mãe representa um ambiente bom, cuja importância é vital para a saúde psíquica do ser humano em devir. A mãe suficientemente boa permite a criança pequena desenvolver uma vida psíquica e física fundamentada em suas tendências inatas. (NASIO, 1995 p. 186.)




Por outro lado, existe aquela que foi denominada: mãe insuficientemente boa. Esta, não consegue se identificar, ou suprir as necessidades do seu bebê. A mãe imprevisível, aquela que oscila de uma adaptação boa, onde supre as necessidades do filho, para um ato de total negligencia, fazendo assim com que esta criança não confie nela, nem consiga prever sua conduta. Além disso, também descreve que esta mãe insuficientemente boa, se define em diversas outras situações. Quando por exemplo, o bebê recebe os cuidados a ele designados, por diversas pessoas, o que faz com que esta criança perceba a sua mãe como dividida em pedaços, tornando complexo aquilo que deveria ser de simples assimilação.
Pode-se concluir que, segundo o autor, dependendo do tipo de adaptação da mãe com essa nova realidade de ter um filho dependente de seus cuidados, refletirá em suas atitudes para com o mesmo, suprindo de forma satisfatória ou não as necessidades fundamentais pra um desenvolvimento psíquico saudável. Sendo esta mãe, incapaz de cumprir seu papel, sendo esta incapaz de satisfazer, o desenvolvimento psíquico de seu filho será prejudicado, o que acarretará em uma serie de distúrbios psíquicos que se originam nesta fase inicial da vida. Contudo, tendo em vista este entendimento, é a mãe ou sua figura substituta, a responsável pela formação da estrutura do funcionamento psíquico deste sujeito.


A mãe suficientemente boa não é uma mãe sem falhas. É a mãe que sustenta o processo de ilusão, mas também de desilusão. É a que prevê experiências de presença, mas também de ausência. A mãe no começo da relação, através de uma adaptação quase completa, propicia ao bebê a oportunidade de ilusão de que esta, por assim dizer, sob o controle mágico do bebê. A onipotência é quase um fato de experiência. A tarefa final da mãe consiste em desiludir gradativamente o bebê, mas sem esperança de sucesso, a menos que, a princípio, tenha podido propiciar oportunidades suficientes de ilusão. (WINNICOTT apud CUNHA, 2003, p. 18)




A forma com que esta irá lidar com seu filho, independente de seu estado emocional, irá conferir a este bebê um significado que este irá introduzir em si, como satisfatórios ou não, gerando um funcionamento sadio ou patológico.
Observemos também Dolto(apud Ledoux, 1991, p.59), onde afirma que a criança só consegue fundamentar sua existência por e numa relação com um outro. Este outro, é detentor da identidade do sujeito, e é através da mãe nutriz que a criança se conhece num campo de odor e de espaço mediatizado conhecido e reconhecido, e é ela que irá filtrar a experiência do mundo. As primeiras estruturas de trocas e de palavras que darão à criança sua identidade. A autora referenciada, ainda afirma que, para que a criança se estruture de maneira sadia, é indispensável existir a presença de uma mesma pessoa nutriz, pois durante a oralidade invasiva, o lactante precisa ter certeza de que não comeu nem excretou essa pessoa maternalmente. A relação contínua com uma mesma pessoa tutelar é vital para a criança, pois cria nela uma memória de um ela-mesma-o-outro, que é a primeira segurança narcísica da criança.


Dolto refere-se ao papel fundamental da mãe como responsável por fazer operar as "castrações simbolígenas", que vão, passo a passo, estabelecendo os marcos e fazendo surgir novas estruturações no psiquismo infantil. (DOLTO apud ARAGÃO, 2004, p.4).




Spitz (1991, p.91), acrescenta outros fatores sobre esta relação inicial e de suma importância no desenvolvimento humano. Segundo o autor, todas as atitudes da mãe, provocam no bebê uma resposta, mesmo que estas ações não estejam relacionadas a ele. Apenas e tão somente a presença da mãe, age como um estímulo para as respostas deste bebê. Igualmente, a presença do bebê, a sua existência, provoca reações na mãe. Durante o primeiro ano de vida, as experiências e ações intencionais investidas pela mãe são decisivas, influenciando no desenvolvimento de vários setores da personalidade desta criança.


Signos afetivos gerados por disposições de ânimo da mãe parecem tornar-se uma fonte de comunicação com o bebê. Esses intercâmbios entre mãe e filho continuam sem interrupção, mesmo que a mãe não esteja necessariamente consciente deles. Esta forma de comunicação entre mãe e filho exerce uma pressão constante, que modela a psique infantil. (SPITZ, 1991, p.103.)


Segundo Bowlby (1990), durante muito tempo os psicanalistas foram unânimes em reconhecer a primeira relação humana de uma criança como a pedra fundamental sobre a qual se edifica a sua dinâmica psíquica. O autor descreve que, embora muitos acreditem que nos primeiros doze meses de vida, quase todos os bebês desenvolvam um forte vínculo com a figura materna, não há consenso a respeito de quatro pontos: com que rapidez esse vínculo se estabelece, por que processos se mantêm, por quanto tempo persiste e que função desempenha.
Ainda segundo o referenciado autor, até 1958, podiam ser encontradas quatro principais teorias dentro da literatura psicológica e psicanalítica sobre a natureza e a origem do vínculo infantil. Eram estas: a primeira delas, onde a criança possui certas necessidades biológicas que devem ser satisfeitas, principalmente a alimentação e o conforto. Quando o bebê começa a se interessar pela figura humana, em especial a mãe, ele percebe que esta satisfaz suas necessidades fisiológicas, ela é fonte de sua satisfação. O bebê aprende isso. O autor define este aprendizado como teoria do Impulso Secundário, um termo derivado da teoria da Aprendizagem, também chamada de teoria do amor interesseiro das relações objetais. Na segunda teoria, denominada teoria da Sucção do Objeto Primário, o autor descreve que há no bebê uma propensão inata para relacionar-se com o seio humano, para sugá-lo e possuí-lo oralmente. Com o tempo, o bebê passa a perceber que, ligado ao seio está uma figura humana, a mãe. O bebê passa então a se relacionar com ela. Na terceira teoria, denominada teoria da Adesão ao Objeto Primário, Bowlby descreve que existe nos bebês uma propensão inata para o contato físico com outras figuras humanas. Existe a necessidade de um objeto independente do alimento e que é tão primária quanto a necessidade de alimento e conforto. Na quarta e última teoria proposta pelo autor, chamada teoria do Anseio Primário de Retorno ao ventre, os bebês ressentem-se de sua exclusão do ventre e buscam voltar a ele.
Destas quatro teorias acima descritas pelo referenciado autor, a mais ampla e vigorosamente sustentada foi a do Impulso Secundário, onde desde Freud permanece como base na maioria dos escritos psicanalíticos.
Ainda, Bowlby (1990), desenvolve a partir de 1958 sua teoria do Apego, onde não há referências a necessidades ou impulsos, pelo contrário o comportamento de apego é visto como aquilo que ocorre quando são ativados certos sistemas comportamentais. Aqui, os próprios sistemas comportamentais se desenvolvem no bebê, como resultado de sua interação com o meio ambiente de adaptabilidade evolutiva, em especial, em sua interação com a principal figura nesse meio ambiente, a mãe. Considera ainda, que a alimentação e o próprio alimento, são apenas secundários no desenvolvimento desses sistemas.


Nenhuma forma de comportamento é acompanhada por sentimentos mais fortes do que o comportamento de apego. As figuras para as quais ele é dirigido são amadas, e a chegada delas é saudade com alegria. Enquanto uma criança está na presença incontestada de uma figura principal de apego, ou a tem ao seu alcance, sente-se segura e tranqüila. Uma ameaça de perda gera ansiedade, e uma perda real, tristeza profunda; ambas as situações podem, além disso, despertar cólera. (BOWLBY, 1990, p.224).

............ continuação amanhã!!!!!!!

Um comentário:

  1. Olá Beatriz!
    Essa postagem é excelente, bastante esclarecedora!
    Prazer em estar aqui!
    “Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso” (Jefhcardoso)
    Gostaria de lhe convidar para que comentasse a minha crônica “A ONÍRICA VIDA DE ARMELAU”. Ok?
    Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com

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