quinta-feira, 9 de junho de 2011

Temas em Psico Oncologia


Resenha sobre o livro Temas em psico-oncologia, de Carvalho et al. (org.)

Daniela Cristina Mucinhato Ambrósio; Manoel Antônio dos Santos

Universidade de São Paulo

Tenho essa Bíblia, estou compartilhando um texto, muito interessante...

O livro Temas em psico-oncologia, desenvolvido em decorrência da formação científica e da experiência prática de seus organizadores, Vicente Augusto de Carvalho, Maria Helena Pereira Franco, Maria Julia Kovács, Regina Paschoalucci Liberato, Rita de Cássia Macieira, Maria Teresa Veit, Maria Jacinta Benites Gomes e Luciana Holtz de C. Barros e demais autores, configura uma obra de referência para atuação em psico-oncologia no cenário nacional. Como tal, é do interesse dos profissionais de saúde – psicólogos, médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, assistentes sociais, além de outros profissionais do campo da oncologia.

A despeito dos enormes avanços tecnológicos consolidados no campo da medicina nas últimas décadas, que permitiram que o câncer se tornasse uma doença crônica, ele ainda continua sendo reconhecido socialmente como uma enfermidade cujo diagnóstico embute potencial sentença de morte, o que mobiliza respostas emocionais extremas, desequilíbrio e insegurança em relação ao futuro. Tal condição psicossocial confirma a importância de desenvolver uma área de conhecimento que envolva o cuidado de pacientes, familiares e dos próprios profissionais envolvidos na assistência. É nesse contexto que Temas em psico-oncologia se insere.

Dividido em 12 partes, esta obra conceitua a psico-oncologia como área de atuação ampla, que se aplica a pacientes com câncer, familiares e profissionais envolvidos em seu tratamento. Em seu primeiro capítulo, Maria Teresa Veit e Vicente Augusto de Carvalho apresentam um histórico da área e demonstram que a psico-oncologia surgiu de percepções de que a incidência, evolução e remissão do câncer estão ligadas a aspectos psicossociais, e de que a etiologia, o desenvolvimento da doença e adesão aos tratamentos estão também associados a fatores psicológicos.

Iniciando a segunda parte do livro com o capítulo "O aconselhamento genético em câncer", Bernardo Garicochea e Maria Cristina Monteiro de Barros demonstram que, atualmente, testes genéticos altamente sofisticados podem ser realizados em um portador de câncer para indicar a presença de um fator hereditário em sua família. Acontece que, ao mesmo tempo que a identificação de famílias pode, por exemplo, evitar o aparecimento da doença, pode causar forte impacto e desgaste emocional durante a fase de realização dos testes e também em casos de detecção antecipada das pessoas em situação de risco. Em seguida, o capítulo produzido por Ricardo Caponero traça um panorama a respeito da biologia celular e da biologia das neoplasias, apresentando alguns processos celulares e bioquímicos que podem levar ao desenvolvimento de células neoplásicas, com consequente formação de tumores. Dando seguimento à descrição dos fatores biológicos relacionados à doença, diferentes autores apresentam o que há de mais atual na descrição dos mais variados tipos de câncer, entre eles câncer de mama, de pele, de cabeça e pescoço, do parênquima renal, ósseo, de pulmão e tumores primários do sistema nervoso central. No capítulo sobre o câncer de mama, Alfredo Carlos S. D. Barros enfatiza a necessidade da assistência multiprofissional humanizada ao paciente durante e após o tratamento médico, retratando inclusive recomendações para a melhoria da qualidade de vida do paciente oncológico.

Ao discorrerem sobre as implicações da associação entre câncer e gestação, Adriana Tourinho Ferreira Buzaid e Antonio Carlos Buzaid tratam da complexidade do manejo de mulheres grávidas e portadoras de câncer, cujo tratamento objetiva idealmente a cura da mãe com proteção ao nascimento saudável da criança, o que nem sempre é possível. A respeito do tumor de próstata, Jorge Hallak, Marcello Cocuzza e William Carlos Nahas o definem como a segunda causa de morte mais frequente entre homens acima dos 50 anos de idade, encetando como fatores predisponentes a genética, a raça e questões ambientais. Os autores destacam que, presentemente, o câncer de próstata tem apresentado um diagnóstico mais precoce, o que tem permitido promover uma mudança radical em sua evolução.

No capítulo seguinte, João Carlos Mantese descreve os principais tipos de câncer ginecológico – colo uterino, endométrio, ovário, vulva, vagina e tubas uterinas –, evidenciando, ao final, a premência do desenvolvimento de estudos que atentem para a qualidade de vida. Em "Leucemia e linfomas", capítulo dedicado ao grupo de doenças que afetam os glóbulos brancos, Nelson Hamerschlak caracteriza os sintomas, métodos diagnósticos e tratamentos para os quatro tipos principais de leucemias, além de expor uma classificação dos linfomas Hodgkin e não Hodgkin. Seguindo com a descrição atual de diferentes tipos de câncer, José Carlos Evangelista, de modo bastante didático, apresenta a caracterização dos diferentes tipos de câncer gastrointestinal, destacando em cada um deles a epidemiologia, etiologia, os sinais e sintomas, o diagnóstico, a evolução clínica e o tratamento.

Ainda nessa segunda parte do livro, os autores Antonio André Magoulas Perdicaris, João Victor Salvajoli e Maria Leticia Gobo Silva, Ricardo Caponero e Luciana M. Lage e Nise Hitomi Yamaguchi fazem uma descrição pormenorizada das técnicas utilizadas no tratamento de cânceres. A cirurgia se afigura como a mais antiga forma de tratamento do câncer, cujo uso evoluiu da radicalidade dos tempos de Willian Halsted – cuja técnica de mastectomia radical recebe seu nome em homenagem ao seu pioneirismo – à combinação atual com outros tipos de tratamento; a radioterapia como uso terapêutico de radiações ionizantes, com a finalidade de atingir precisamente um tumor definido, a quimioterapia descoberta por meio de estudos com o gás mostarda após a Primeira Guerra Mundial e de sua introdução no tratamento de linfomas, e a imunoterapia como tratamento baseado na imunologia para combater o câncer. Finalizando, Daniela Carinhanha Setúbal e Maribel Pelaez Dóro descrevem o transplante TCTH (infusão intravenosa de células-tronco hematopoiética), que possui como objetivo restabelecer a função medular e imune de pacientes com doenças malignas e não malignas.

Na terceira parte da obra, ao tratarem dos tipos de prevenção do câncer, Rafael A. Kaliks e Auro Del Giglio apresentam os fatores extrínsecos e intrínsecos que podem levar ao desenvolvimento de um câncer e retomam a discussão a respeito dos aspectos psicossociais envolvidos no teste genético para detecção de portadores de câncer hereditário.

Fica clara até aqui a preocupação dos autores de destacar os fatores psicossociais que perpassam todas as faces do câncer, o que diferencia e constitui a psico-oncologia como área do conhecimento voltada para o melhor desenvolvimento da qualidade de vida dos pacientes. Mesmo assim, o livro ainda apresenta uma parte exclusivamente voltada para a face psicossocial do câncer, destacando-se a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.

É com a questão da qualidade de vida que Sebastião Benício da Costa Neto e Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira de Araujo dão início à quarta parte de Temas em psico-oncologia, oferecendo, a princípio, um histórico do termo. Dando continuidade ao tema, Dóris Lieth Nunes Peçanha trata de um ponto imprescindível quando se aborda o tratamento do câncer: a questão das múltiplas estratégias de enfrentamento utilizadas pelos pacientes nas diferentes fases da doença, destacando a dificuldade, atualmente encontrada, para formação de um consenso a respeito dos termos enfrentamento e qualidade de vida.

No capítulo que se segue, Adriana Bigheti e Elizabeth Ranier Martins do Valle apresentam um estudo fenomenológico-existencial realizado com adolescentes entre 12 e 17 anos em tratamento de câncer. Os resultados demonstram que, durante o tratamento, alguns adolescentes podem apresentar dificuldades para conviver com as restrições que lhes são impostas, porém alguns já mostram capacidades de desenvolver recursos para enfrentar tais adversidades. Na sequência, ao tratar da psiconeuroimunologia, Regina Paschoalucci Liberato ressalta a importância de que o médico considere o paciente como indivíduo biopsíquico-social-ecológico em sua totalidade, com vivências singulares em relação à doença.

Em sua quinta parte, os autores Vicente Augusto de Carvalho, Pedro Altenfelder Silva e Carolina de Mello-Santos, Rodrigo Fonseca Martins Leite e Chei Tung Teng retratam a importância de atenção aos aspectos psiquiátricos de pacientes com câncer, destacando a associação entre a evolução do câncer, o desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão, entre outros, e a piora na qualidade de vida dos enfermos, o que vem apresentando uma frequência maior de ocorrência. De acordo com os autores, há dificuldade de estabelecer um diagnóstico psiquiátrico por causa da concepção corrente de que sintomas depressivos, angústia e ansiedade são comuns a pacientes com câncer. Os autores mostram que essa sintomatologia pode ocorrer concomitantemente ao câncer e deve ser identificada e tratada.

Além disso, o livro apresenta um apanhado das consequências psicossociais ocasionadas pelas sequelas do tratamento do câncer, incluindo a dor, sobretudo relacionada ao câncer metastático, destacada no capítulo redigido por Ana Claudia de Lima Quintana Arantes e no de Fernanda Rizzo di Lione. Questões ligadas à sexualidade que interferem na imagem corporal, na reprodução e no funcionamento sexual são abordadas no capítulo de Rita de Cássia Macieira e Maria Fernanda Maluf. Náuseas e vômitos como complicações do câncer também são abordados por James Farley Rafael Maciel e Celso Massumoto, assim como os problemas orais destacados por Marcos Martins Curi, para os quais os profissionais de saúde devem atentar como maneira de melhorar a qualidade de vida desses pacientes.

A sétima parte do livro apresenta uma análise de diferentes tipos de intervenção psicossocial que têm como propósito implementar a qualidade de vida de indivíduos com câncer por meio de uma abordagem interdisciplinar das especialidades que se integram ao cuidado do paciente, inclusive por meio da constituição de equipes multidisciplinares.

Buscando a reabilitação psicossocial do paciente com ser completo, com um funcionamento global, podem ser utilizadas a psicoterapia e outras formas de terapia que, uma vez integradas, contribuirão para a redução da dor e do sofrimento do paciente, por meio de um caminhar junto dele durante o tratamento.

A família diante do câncer também é foco de estudo e intervenção. Maria Helena Pereira Franco dedica-lhe uma reflexão, destacando a importância de se estar atento às vivências familiares desde a fase que antecede o diagnóstico. E como podemos levar ao plano da prática institucional e da realidade dos atendimentos domiciliares o conhecimento que adquirimos a respeito do câncer? É a questão à que tentam responder Maria Teresa Veit e Luciana Holtz de Camargo Barros, e Maria das Graças Mota Cruz de Assis Figueiredo.

O tema da morte e do morrer não poderia ficar de fora de uma obra tão abrangente. Por essa razão, Maria Julia Kovács, autora renomada pelas diversas publicações a respeito do assunto, apresenta suas considerações, buscando a difusão da possibilidade de educação para a morte. Complementarmente, o trabalho com pessoas enlutadas é foco dos estudos descritos de Maria Helena Pereira Franco, que considera que o luto não se dá apenas em situação de morte, mas se inicia diante mesmo do diagnóstico, caracterizando-se como o luto pela própria doença.

A boa comunicação que é imprescindível na relação médico-paciente, com destaque à evidência de que, para os pacientes, o momento da consulta é, provavelmente, uma das conversas mais aguardadas de seu dia. Esse é o assunto do capítulo de Antonio André Magoulas Perdicaris e Maria Júlia Paes da Silva. Para encerrar essa parte da obra, o tema da espiritualidade é abordado em seguida. Descrita como sopro de vida, baseado na existência de duas dimensões da realidade, com toda a delicadeza que o tema requer, Regina Paschoalucci Liberato e Rita de Cássia Macieira apresentam uma reflexão ampla sobre o uso da espiritualidade no enfrentamento do câncer e a necessidade de respeito e atenção por parte dos profissionais sobre o lado espiritual/religioso de seus pacientes.

Outro eixo principal de abordagem do livro diz respeito à importância do cuidado multiprofissional de pacientes com câncer. A oitava parte dedica-se a apresentar um resumo de diferentes tratamentos, que podem complementar o cuidado médico e psicológico do paciente oncológico.

A fisioterapia, cuja intervenção é dividida em fase imediata, até o décimo dia da cirurgia, e fase tardia, após esse período, tem como objetivo primeiro a redução da dor. A terapia nutricional, que tem como objetivo, entre outros, prevenir ou corrigir a desnutrição, deve ser iniciada com base em uma correta avaliação nutricional realizada com diferentes métodos. Já a terapia ocupacional tem como objetivo, diante das limitações que o câncer acarreta na vida do paciente oncológico, possibilitar condições físicas e emocionais para que as ocupações significativas para ele e seus familiares possam continuar a ser exercidas. A terapia fonoaudiológica, por sua vez, tem por objetivo reabilitar o paciente sequelado por causa das terapêuticas utilizadas no tratamento.

Como subárea da oncologia, com a oncologia pediátrica tem início a nona parte do livro, que destaca as principais neoplasias da infância que atingem crianças de zero a 14 anos de idade, além de abordar os mais importantes efeitos colaterais tardios do tratamento nessa faixa etária, em seus aspectos biológicos e psicossociais. Como ressaltam Mirian Aydar Nascimento Ramalho e Gisele Machado da Silva, apoiadas por Elizabeth Ranier Martins do Valle, nesse âmbito é importante observar e estabelecer modos de diminuir as implicações da necessidade de enfrentar um câncer para as famílias das crianças e adolescentes e também para a continuidade da educação escolar, por meio de programas de reinserção escolar.

Preocupados com a transformação dos conhecimentos – que são amplamente construídos e agregados por Temas em psico-oncologia – em prática cotidiana, inserida na rotina profissional, os autores da décima parte colocam-nos perante a organização e o desenvolvimento de serviços de assistência oncológica que, de acordo com Maria Teresa Veit, devem ter como missão atender integralmente às necessidades de seus pacientes. Nesse sentido, Maria Júlia Kovács, Rita de Cássia Macieira e Vicente Augusto de Carvalho destacam a importância de que os profissionais de saúde envolvidos no tratamento de pacientes com câncer estejam em constante atualização, uma vez que, contando com profissionais mais capacitados, podemos pressionar o poder público a contratá-los.

Regina Paschoalucci Liberato e Vicente Augusto de Carvalho, entretanto, retratam também a necessidade de pensar o cuidado de quem cuida, no caso, os profissionais de saúde. Para isso, os autores realizam uma reflexão a respeito da diferença entre o cuidar e o curar, e destacam a ocorrência de estresse e síndrome de burnout nos cuidadores.

Na parte devotada a temas especiais ligados à psico-oncologia, Maria Cecília Mazzariol Volpe se dedica às questões legais envolvidas na ocorrência de um câncer, relacionadas à utilização de novas drogas e aos direitos do indivíduo enfermo. Seguindo, Maria Helena Pereira Franco e Maria Júlia Kovács discorrem sobre a necessidade de respeito à ética em pesquisa quando da realização de estudos com pacientes com câncer, considerando sua condição de vulnerabilidade.

Dando continuidade, o livro mostra-se atento aos mais recentes avanços sociais e tecnológicos na área oncológica, discutindo os benefícios e complicações do uso da internet por pacientes com câncer e profissionais de saúde que lidam com eles, destacando a relevância de que o médico oriente seus pacientes a buscar sites confiáveis e que eles tenham liberdade para conferir com o profissional a veracidade das informações obtidas.

Nos capítulos finais dessa penúltima parte da obra, Arli Melo Pedrosa e Maria Jacinta Benites Gomes relatam experiências de instituições públicas de saúde que desenvolvem programas de educação continuada a pacientes oncológicos e grupos de apoio relacionados ao controle do câncer.

Finalizando a brilhante construção de Temas em psico-oncologia, Márcia Maria Alves de Carvalho Stephan dedica-se a um levantamento histórico da psico-oncologia no Brasil, após perpassar por temas ligados ao câncer que envolvem a modernização da sociedade. Verifica-se que, na história da área em nosso país, encontram-se profissionais como os que se dedicaram à construção do livro, que podem não possuir, de acordo com a autora, tantos recursos quanto desejariam, mas que se esforçam para cuidar dos pacientes com câncer em suas peculiaridades e ainda ampliar o rol de conhecimentos a respeito.

O câncer afigura-se como um grande desafio da época contemporânea, por ainda ser associado à dor, ao sofrimento e à morte, requerendo tratamentos dolorosos, invasivos e muitas vezes mutiladores, que comprometem a qualidade de vida. Os pacientes precisam lidar com as questões que fazem parte da vida de todos, acrescidas pelas condições do câncer. A psico-oncologia aborda as relações existentes entre os fatores psicológicos e a doença neoplásica, tanto no sentido das funções psicológicas do paciente, da família e da equipe de saúde, que são afetadas pelo câncer, quanto do modo como as variáveis afetivas e comportamentais influenciam no risco e na sobrevida do câncer.

Nesse sentido, Temas em psico-oncologia retrata a importância de contarmos com uma área que se volte ao cuidado integral da pessoa com câncer e que una a atenção ao paciente aos cuidados com a família, mas que se dedique também ao cuidado da equipe de saúde. Esta obra abrange desde a preocupação e o cuidado dedicado ao paciente, passando pelo apoio aos familiares e à equipe, complementado pela questão da formação de profissionais com habilidades e competência para atuar na área. Tendo como horizonte a educação de profissionais mais capacitados, Temas em psico-oncologia é obra oportuna e que cumpre sua função de compêndio atualizado na área.

Identidade do Psicólogo no Meio Hospitalar



Susana Alamy



Quando falamos em identidade do psicólogo no meio hospitalar devemos ter em conta algumas considerações, como a inserção do psicólogo na instituição e sua atuação nas clínicas.


I. INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NO MEIO HOSPITALAR

A inserção do psicólogo no meio hospitalar se deve a resistências por parte da instituição, dos médicos e dos próprios pacientes, suscitadas por:

- medo da subjetividade suscitada, trazida à tona pelo psicólogo. Medo da leitura do não-dito, que permeia muitas das relações, pondo em jogo as verdades;

- onipotência do médico - que detém o discurso do saber;

- onipotência do psicólogo - que em sua leitura própria do sujeito encontra todas as respostas, "psicologizando" todas as manifestações orgânicas;

- diversidades de técnicas de atendimento psicológico (que variam de acordo com as necessidades do paciente e princípios do psicoterapeuta, indo desde uma escuta analítica até uma intervenção direta e auxiliar como relaxamento);

- vulgarização da psicologia pelos próprios profissionais (quando os profissionais de psicologia trazem respostas prontas e simplistas, colocando em dúvida a veracidade das mesmas).

A necessidade de se ter o psicólogo na instituição hospitalar é reconhecida quando:

- apenas os fatores anatômicos, físicos e químicos não são suficientes para justificar e tratar determinadas patologias;

- são reconhecidos os fatores inconscientes atuantes em diversas patologias, como nas doenças psicossomáticas;

- através da psicoterapia é possível ao paciente trazer à tona a causa dos seus sofrimentos, possibilitando ao mesmo elaborá-los;

- há o reconhecimento do conceito de saúde emitido pela O.M.S. (Organização Mundial de Saúde): "Saúde é o total bem-estar biopsicossocial do homem e não somente a ausência da doença".

- os resultados práticos do atendimento psicológico repercutem na alta hospitalar do paciente. Como exemplo, podemos pensar no paciente deprimido e no que não está deprimido. O paciente não deprimido responderá melhor e mais eficientemente ao tratamento médico;

- há diminuição de ansiedades pré-cirúrgicas possibilitando ao médico melhor comunicação com o paciente;

- o sujeito doente sofre desequilíbrio em uma das instâncias bio-psico-social e através da psicoterapia é possível restabelecer seu equilíbrio anteriormente existente. Quando falamos de psicologia hospitalar, falamos do atendimento prestado àquele paciente que tem como "foco" a causa da sua internação, da sua doença, portanto motivo este do atendimento.


II. ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NAS CLÍNICAS

A atuação da psicologia nas clínicas se faz considerando a especificidade de cada uma delas e de seus pacientes, onde temos sempre em conta a "simbologia dos órgãos" afetados, dos órgãos doentes. Um paciente cardíaco terá fantasias relacionadas à importância do coração, aos mitos referentes a este.

A atuação pode se dar em ambulatório, enfermaria, CTI e apartamento, onde a reação do paciente frente a estes lugares se dará de modo específico e singular. Com certeza um CTI amedronta muito mais a um paciente do que um apartamento. Não podemos desconsiderar as fantasias suscitadas em cada um destes lugares. Podendo o paciente ser trabalhado individualmente ou em grupo, em situações de cirurgia (psicoprofilaxia cirúrgica ou somente em preparação psicológica para cirurgia), tratamento clínico da doença e/ou hospitalização - situação em que por si mesma é geradora de ansiedades e angustias, de stress, podendo desencadear problemas psicoafetivos.

Na nossa atuação objetivamos:

- o processamento de informações, ou seja, a forma como o paciente está processando as informações trazidas pelos médicos, pela enfermagem, pelos familiares, etc.;

- a elaboração da situação vivenciada pelo paciente, trabalhando-o nos níveis psicodinâmicos (inconsciente e consciente), observando sua compreensão e insight do que se passa, observando seus limites;

- a diminuição dos medos básicos, da ansiedade e da angústia em níveis tolerados pelo paciente - quando se trata de situações de cirurgia ou não. Muitas vezes o stress provocado por uma doença poderá ser o momento oportuno de reflexões para o paciente, sendo, então, positivo;

- evitar que as "intervenções técnicas" (as cirurgias e os exames complementares) possam dar lugar a uma organização de características psicopatológicas na personalidade do paciente, quando começam a aparecer sintomas que estavam ocultos e não remetem à clínica, aos sintomas clínicos em questão;

- priorizar ou relativizar as dificuldades do paciente. Um paciente que irá se submeter a uma cirurgia poderá estar ansioso por medo da anestesia, da morte etc., cabe ao psicólogo escutar e analisar sua demanda mais imediata.

Atuando de forma interagida e dinâmica junto ao médico, obteremos melhores resultados no tratamento, porque assim estaremos objetivando a melhora do paciente enquanto um todo.
É importante que o psicólogo esteja atento à sua onipotência e ter capacidade de trabalhar conjunta e interagidamente com o médico, bem como com toda a equipe de saúde. Trabalhar conjuntamente implica em respeitar a ciência de cada um e seus limites e ter espaço para serem colocadas todas as opiniões, divergências, para que se possa chegar a um denominador comum em relação ao paciente.

A atuação conjunta com o médico é muito rica quando possibilita ao paciente ser atendido em seus aspectos subjetivos e concretos, sem que seja fragmentada por cada profissional, oferecendo a ele também uma outra escuta para seus sofrimentos.

Muitas vezes, por desconhecimento de outros profissionais da saúde e da própria instituição, o psicólogo é confundido com o assistente social, terapeuta ocupacional (quando atendendo crianças) e outros. Neste momento é importante demarcar o seu lugar, esclarecendo as dúvidas que originaram tal concepção errônea. É um dos momentos oportunos para o psicólogo falar do seu trabalho e o tornar claro aos outros.

Lembrando que sempre cabem as reflexões sobre as demandas existentes, se são elas dos médicos, do paciente, etc.


Fonte: http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos_Psicologia/Identidade_do_psicologo_no_meio_hospitalar.htm

terça-feira, 7 de junho de 2011




CONSULTÓRIO DE PSICOLOGIA...

Beatriz Guedes de Castro
Psicóloga Clínica
CRP: 06/93057
Especialista em Psicologia e Saúde: Psicologia Hospitalar ( PUC- SP)
Especializanda em Psico Oncologia ( Pérola Byinton - São Paulo)

13-32335628
13-96097078

Diferenciação Psicopatológica entre Produção Factível de Sintomas e Simulação

Muito bom!!! muito interessante... vale a pena ler
compartilhando...

Diferenciação Psicopatológica entre Produção Factível de Sintomas e Simulação

Ana Betriz Barbosa de Moraes

Raquel Ayres de Almeida

Sandro Carellos


O transtorno factível se caracteriza pela invenção ou indução intencional de sintomas ou sinais de outras doenças, unicamente para que a pessoa seja identificada como “enferma” ou “paciente.

A simulação é definida como a “produção intencional de sintomas físicos ou psicológicos falsos ou grandemente exagerados, motivada por incentivos externos”.

Embora os dois diagnósticos envolvam a invenção de sintomas, no transtorno factível o paciente produz os sintomas devido à necessidade intrapsíquica de manter o papel de enfermo e não há incentivos externos como evitar o trabalho, receber indenizações ou escapar de situações desfavoráveis, que justifiquem o quadro.

No DSM-IV-TR a simulação não é considerada um transtorno mental ou doença psiquiátrica sendo classificada na categoria “outras condições que podem ser foco de atenção clínica”.

O diagnóstico do transtorno factível pelo DSM-IV-TR requer três critérios:

1. Produção ou fingimento intencional de sinais ou sintomas físicos ou psicológicos.

2. Motivação para o comportamento consiste em assumir o papel de enfermo.

3. Ausência de incentivos externos para o comportamento.



O indivíduo com transtorno factível demonstra o padrão de fingir doenças em numerosos pronto-socorros de vários hospitais e a ser submetido a vários procedimentos diagnósticos. Além disso, outros fatores podem sugerir o diagnóstico factível como discrepâncias entre achados objetivos, como diferenças pronunciadas entre temperaturas orais e retais por serem forjadas ou contrações involuntárias em membros “paralisados”. Às vezes, o curso da doença apresentada é acentuadamente atípico, ou a condição não responde conforme o esperado às terapias habituais. Em geral o paciente descreve uma vida fascinante e extravagante, com ligações com pessoas conhecidas, mas não recebe visitas nem telefonemas. O dilema é especialmente complexo quando o paciente tem combinações de doenças reais e simuladas. Psicoses, transtorno do humor e transtornos dissociativos precisam ser excluídos como etiologias alternativas.

A simulação é um diagnóstico difícil e quando há suspeita de que um sintoma pode estar sendo fabricado ou exagerado, o clínico deve ficar alerta para várias inconsistências que podem aparecer na avaliação do indivíduo, como comportar-se de forma dramaticamente diferente, dependendo de quem acreditam que os está observando. Além da entrevista clínica, outras fontes de informação podem ser úteis ao diagnóstico, como entrevistas com membros da família, amigos e colegas de trabalho. A tabela 1 (HALES & YUDOFSKY, 2006) oferece um modelo para avaliação da psicose simulada e na tabela 2 (op cit.) alguns fatores são delineados para que se avalie se as alucinações e os delírios relatados são falsificados ou exagerados.

Durante a avaliação diagnóstica, para que seja feito a diferenciação entre transtorno factível e a simulação, o profissional terá que conseguir detectar se o paciente possui interesses externos pelo diagnóstico ou se ele não está ciente das motivações que o fazem produzir a doença, já que em outros aspectos os quadros são semelhantes.

Tabela 1Modelo de decisão clínica para a avaliação da simulação



A apresentação do avaliado satisfaz os seguintes critérios:

A. Motivo compreensível para simular.

B. Variabilidade acentuada do quadro, observada em pelo menos um dos seguintes:

1. Discrepâncias acentuadas entre o comportamento na entrevista e fora dela.

2. Grandes inconsistências nos sintomas psicóticos relatados.

3. Contradições flagrantes entre episódios anteriores relatados e história psiquiátrica documentada.

C. Sintomas psiquiátricos improváveis evidenciados por um ou mais dos seguintes:

1. Relato de sintomas psicóticos elaborados com ausência dos temas paranóicos, grandiosos ou religiosos comuns.

2. Emergência súbita de sintomas psicóticos para explicar comportamento anti-social.

3. Alucinações ou delírios atípicos (ver tabela 2).

D. Confirmação de psicose simulada por:

1. Admissão da simulação após confrontação.

2. Presença de fortes informações corroborativas, como dados psicométricos ou história de simulação.







Tabela 2Modelo de limiar para a avaliação de alucinações e delírios

Deve-se suspeitar de simulação se qualquer combinação dos seguintes aspectos for observada:

Alucinações

Alucinações contínuas em vez de intermitentes

Alucinações vagas ou inaudíveis

Alucinações não-associadas a delírios

Linguagem pomposa relatada em alucinações

Incapacidade de descrever estratégias para diminuir as vozes

Auto-relato de que todas as alucinações de comando foram obedecidas

Alucinações visuais em preto e branco

Delírios

Início ou fim abrupto

Esforço para chamar a atenção para os delírios

Conduta acentuadamente inconsistente com os delírios

Conteúdo bizarro sem pensamento desordenado



Fonte: http://psicoterapiaepsicologia.webnode.com.br/news/diferencia%c3%a7%c3%a3o%20psicopatologica%20entre%20produ%c3%a7%c3%a3o%20factivel%20de%20sintomas%20e%20simula%c3%a7%c3%a3o/

domingo, 5 de junho de 2011

Os desafios da Terapia - Irvin D. Yalom


Como diz o subtítulo, destinado a jovens terapeutas, "Os Desafios da Terapia" é uma reunião de recomendações que abrange muitos aspectos do atendimento psicoterápico individual e algumas questões referentes às terapias de grupo. Sem se aprofundar nos temas, Irvin Yalom faz, entre outros tópicos, uma síntese bastante convincente da importância da análise do próprio terapeuta, da estrutura da transferência e de como ela reflete as demais relações do paciente, das dificuldades mais comuns do atendimento, da importância dos atos em contraposição às palavras, de como não se devem tomar decisões pelo paciente, da importância da análise dos sonhos. Entre os principais conselhos, Yalom sugere que o terapeuta deixe intervalos entre as sessões, faça visitas domiciliares, anotações, expresse suas dúvidas, não se esquive de falar de si e evite toda aproximação sexual com os pacientes.

Fonte: http://www.psicocare.net/psicologia/index.php?option=com_content&view=article&id=76&Itemid=60