quinta-feira, 17 de março de 2011

Psicologia ...HIV/AIDS






SÍNTESE DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE PSICOLOGIA

beatriz.psi@live.com




AS IMPLICAÇÕES PSICOSSOCIAIS VIVENCIADAS PELOS PORTADORES
HIV/ AIDS NO HOSPITAL GERAL


RESUMO


A presente pesquisa teve como objetivo geral conhecer as implicações psicossociais vivenciadas pelos portadores com HIV/ AIDS internados no Hospital Geral Nereu Ramos, de Florianópolis. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de campo, exploratória, de natureza qualitativa. O recurso utilizado foi uma entrevista semi-estruturada, que abrangeu oito pacientes HIV/AIDS. Os resultados condensados permitem dizer que o grupo entrevistado é do sexo masculino, tendo idades variando entre 25 e 59 anos. Foram investigados os seguintes aspectos: a identificação dos sentimentos do paciente ao receber o diagnóstico; a percepção do paciente sobre ser portador do vírus; a existência de preconceitos; verificação na percepção do paciente sobre mudanças no relacionamento afetivo, familiar, profissional e em suas atividades diárias; e a verificação da necessidade de atendimento psicológico. A análise dos resultados demonstra como cada paciente vivenciou as etapas da doença e algumas implicações psicossociais desde a reação do paciente, ao saber seu diagnóstico, este como inesperado, até como seus familiares proporcionariam uma segurança afetiva, tranqüilidade, confiança, esperança e motivação, fatores que são decisivos no equilíbrio psíquico do paciente portador do vírus, formando assim o apoio destes portadores HIV/AIDS, deixando claro o não entendimento do papel do psicólogo no hospital.



Palavras chaves:. HIV/AIDS. Implicações psicossociais. Equilíbrio psíquico Psicólogo hospitalar.


As entrevistas foram realizadas no Hospital Geral Nereu Ramos, na cidade de Florianópolis/SC, em 31 de agosto de 2007, onde foram entrevistados oito pacientes internados na ala designada aos portadores de HIV e/ou doente da AIDS, com a finalidade de verificar a ocorrência das implicações psicossociais em pacientes com HIV/ AIDS, entre 25 a 59 anos, do sexo masculino. Cabe mencionar que o tempo de internação variou entre 1 (um) e 30 (trinta) dias.
Convém ressaltar que o psicólogo hospitalar considere esses pacientes individualmente, para assim trabalhar a relação existente entre elas, formando uma ligação que facilite o relacionamento entre paciente, família e profissional da saúde.
Campos (1995) considera que o psicólogo atuando em hospitais visa, portanto, buscar a promoção, prevenção e recuperação do bem-estar físico e emocional de pacientes hospitalizados, e também tem por função o auxílio na orientação a família destes pacientes, em todo processo de doença e hospitalização.
Com o tempo, o paciente submetido a uma intervenção psicológica pode diminuir sua freqüência em relação às intervenções, até que possa levar a vida sem necessidade de visitar o psicólogo de maneira sistemática. Assim, deduz-se que a duração do tratamento psicológico pode ser variável, de acordo com a necessidade de cada um.

5 CONCLUSÃO

Esta pesquisa teve como objetivo conhecer as implicações psicossociais vivenciadas pelos portadores HIV / AIDS englobando assim a subjetividade em torno do adoecer.
Quanto ao problema de pesquisa, verificou-se que as implicações psicossociais variaram conforme cada um vivenciou e enfrentou seus sentimentos.
Foi possível observar a maneira como cada paciente reagiu no momento do diagnóstico, tendo como suas primeiras reações diante do fato de estar com HIV, de formas semelhantes, ou seja, as reações (inesperado, já esperavam pelo diagnóstico, negação, horrível, morte e choque) variam de acordo como a maneira de comunicação do diagnóstico.
No segundo objetivo, que tinha como interesse identificar a percepção do paciente sobre ser portador do vírus, pode-se notar que a grande maioria atribui o significado de ser portador do vírus HIV, com sentimentos em torno de angústia, depressão, morte, tristeza e negação, entretanto houve aqueles que responderam dando significados voltados em torno de cuidados e luta, motivados, assim, por suas famílias, acreditando que o amor familiar é de suma importância para suprir o sentimento que a sociedade demonstra ao portador do vírus.
A AIDS, desde sua descoberta, vem colocando os conhecimentos da ciência e alguns dos valores humanos em questionamento. Assim, com os avanços da ciência e da medicina, permitiu-se que a AIDS fosse vista agora como uma doença crônica.
Outro fato que também ficou evidenciado foi em relação à contaminação. Apesar das diversas campanhas de prevenção do vírus HIV, ainda é muito freqüente a contaminação através do sexo e das drogas injetáveis, onde apesar da mídia divulgar métodos de prevenção e conscientizar a população dos perigos que o sexo sem proteção e as drogas injetáveis expõe, o descaso é também enorme por parte da população. Os portadores desta pesquisa enfatizam também que o preconceito afastou pessoas próximas, gerando situações desagradáveis no trabalho e no meio social o qual viviam.
Outra observação concluída, que deve ser ressaltada, é que grande parte dos portadores de HIV entrevistados nesta pesquisa não esconderam o diagnóstico dos familiares, fato que defronta as atuais literaturas.
Em relação ao quarto objetivo, que era verificar na percepção dos pacientes mudanças em seu relacionamento familiar e em suas atividades diárias, após o recebimento do diagnóstico, nota-se que a reação da família primeiramente foi de choro e o desespero. Esta é a atitude com maior incidência entre os familiares de pacientes soropositivos, onde em decorrência este fato é desencadeado devido às modificações sócio-culturais que a família acaba sofrendo, porém em tempos atuais os estigmas por parte de familiares com relação a AIDS e seu portador está diminuindo.
No que tange às modificações psicossociais após o diagnóstico, observou-se que a maior parcela dos entrevistados apresentaram modificações na suas vivências após o diagnóstico, modificações essas que buscam a melhor maneira de manter uma boa saúde com grandes cuidados ao bem-estar físico do portador.
No que se refere ao quinto e último objetivo, que era verificar a necessidade de atendimento psicológico após o diagnóstico na percepção do paciente, um fator preocupante foi demonstrado com grande incidência nesta pesquisa, qual seja, grande parte dos portadores do vírus HIV entrevistados não dão relevância à necessidade de atendimento psicológico, onde, segundo os entrevistados, o suporte psicológico necessário vem da própria família, evidenciando assim a falta de informação sobre o papel do psicólogo, na reestruturação física e psicológica dos portadores do vírus HIV.
Contrariamente ao pensamento destes pacientes, Simonetti (2004) coloca que, para a psicologia todo sintoma, além de doer e fazer sofrer, comporta informações sobre a subjetividade do paciente, havendo a noção de que o sujeito fala por meio de seus sintomas, ou é falado por eles.
O papel do psicólogo é contribuir para a reestruturação do paciente, possibilitando um restabelecimento físico e psicológico.
Sabe-se, por tudo que já foi respaldado teoricamente, que são muitos e complexos os sentimentos que a condição de portador HIV/AIDS desperta, deixando clara a necessidade de uma reorganização de prioridade e da própria vida dessas pessoas.
Ainda de acordo com Simonetti (2004), uma das características da Psicologia é que ela não estabelece uma meta ideal para o paciente alcançar, mas simplesmente faz com que o paciente venha a fazer um processo de elaboração simbólica do adoecimento.
Um suporte psicológico é essencial num momento de dúvidas e incertezas, possibilitando que o psicólogo pontue aspectos que em meio aos desafios provocados pela situação de estar doente, os portadores não percebam.
Uma intervenção psicológica possibilita ao paciente explorar suas emoções ocultas, como: raiva, desespero, medo, compreensão, dentre outros, possibilitando assim examinar suas reais necessidades, tornando disponíveis os seus recursos para lidar com sua condição de uma maneira positiva.
Ferreira (2003) diz que existem momentos em que o paciente busca em sua família e em seus amigos uma palavra de consolo para poder diminuir o peso que a doença carrega, para então poder tranqüilizar seus medos.
Dar assistência ao paciente é, sem dúvida, tão importante como proporcionar o melhor tratamento medicamentoso.
Segundo Ferreira (2003), o psicólogo muito pouco pode fazer em termos orgânicos e é exatamente aí que se originam sentimentos negativos no paciente. Assim, nem sempre o psicólogo tem a resposta esperada pelo paciente, em termos de interesses, mesmo não se tendo consciência.
O portador do vírus HIV e/ou doente da AIDS precisa muito do trabalho do psicólogo para poder aprender a lidar com suas angústias, perdas e com a nova realidade.
Campos (1995) enfoca ser necessário que o profissional psicólogo leve ao indivíduo o conhecimento de suas potencialidades, fazendo-se perceber em torno das relações com suas atitudes e experiências próprias, fortalecendo assim suas possibilidades de enfrentamento diante situações de crise.
Assim sendo, o psicólogo ajudará o paciente a entrar em contato com seus próprios medos, para então poder expressar seus sentimentos, onde quando o paciente trabalhado deverá conseguir apresentar mudanças consideráveis em relação à doença e à vida.
Durante o processo de realização dessa pesquisa constatou-se que na referida unidade hospitalar não há psicólogos fazendo parte da equipe de profissionais. Neste momento questiona-se a falta do conhecimento do papel do psicólogo transcende ao paciente, ou seja, será que há um desconhecimento da função do psicólogo também na equipe de profissionais. Dentro da equipe, o psicólogo possibilitará uma melhor interação visando objetivos aprendidos e articulados em direção a melhora, onde todos os profissionais devem ser treinados para lidar com os aspectos envolvidos no HIV/AIDS, como preconceito, medo, impotência e outros.
Diante do exposto acima, essa pesquisa contribuiu para a compreensão da subjetividade que envolve o paciente portador do HIV e/ou doente da AIDS no seu contexto psicossocial. Propões novos estudos referentes à temática do HIV/AIDS enfocando outros aspectos (tratamento, questões familiar).
Sugere-se a formação de grupos operativos de portadores, possibilitando que estes discutam seus problemas, sob coordenação de um dos membros da equipe, sendo o psicólogo o mais instrumentalizado para isso, onde este trabalho pode servir de suporte teórico tanto para acadêmicos do curso de Psicologia, quanto para acadêmicos de outras áreas, que venham querer trabalhar com esse tema tão difícil e apaixonante, onde há ainda muito a ser trabalhado, ajudando assim a minimizar o sofrimento destes agora soropositivos ou doentes da AIDS.

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