domingo, 13 de março de 2011

Atuação do Psicólogo Hospitalar junto ás mulheres diagnosticadas com Câncer de Mama


Aspectos Psicológicos da Mulher com Câncer de Mama


A comunicação do diagnóstico de câncer pode implicar primeiramente numa notícia de revelação com intenso sofrimento. O momento em que as pessoas recebem o diagnóstico é sempre muito delicado, porém nem sempre tratado com o devido cuidado.
O diagnóstico de câncer de mama é, sem dúvida, muito ameaçador, costumando a provocar insegurança diante de um futuro, com o qual seus ideais são questionados durante todo o seu processo saúde e doença.
O diagnóstico de câncer e todo o processo da doença são vividos pelo paciente e pela sua família como um momento de intensa angústia, sofrimento e ansiedade. Além do rótulo de uma doença dolorosa e mortal, o paciente comumente vivencia no tratamento, geralmente longo, perdas e sintomas adversos, acarretando prejuízos nas habilidades funcionais, vocacionais e incerteza quanto ao futuro. Muitas fantasias e preocupações em relação à morte, mutilações e dor encontram-se presentes (VENÂNCIO; 2008, p.56-63)

Segundo Monteiro (1996) o seio é um órgão altamente erogenizado, sua participação no ato sexual é relevante, entretanto, sua ablação vem a interferir de forma direta e indiretamente na consecução do prazer, além disso, a necessidade inconscientemente de reparação perante seus objetos internos danificados.
Soares (2007) postula a revelação do diagnóstico com iniciante do fato do câncer de mama referir-se a possível perda do seio e a morte terem uma estreita relação,desde o ponto de vista ético dos profissionais que venham dar a notícia do diagnóstico e das próprias pacientes,necessitando do saber frente suas condições e possíveis tratamentos,sejam medicamentosos ou psicológico.
Os pacientes com câncer vivenciam desde alterações físicas e psicológicas até alterações sociais, onde a depressão como alteração presente nessa demanda costuma ser um sintoma freqüente e a mais complicada de ser tratada (SOARES, 2007).

Como já fora mencionado, o diagnóstico de câncer de mama, é uma das doenças mais temidas pelas mulheres, por apresentar efeitos psicológicos que afetam a sexualidade e imagem pessoal, vem portanto acompanhado de muita angústia e sofrimento, ansiedade e as fantasias são de grande intensidade em todo processo da doença.
Paiva & Pinotti (1998) relatam que o aparecimento de sintomas gera ansiedade, no sentido de que algo de anormal se passa na vida da pessoa. Esse sentindo muitas vezes, vem a ameaçar sua existência, fazendo com que a pessoa torna-se consciente de sua finitude, ou seja, a possibilidade de morte, acarreta muita angústia, o receio de estar com esta grave doença, gera também o medo de ir ao médico e confirmar esta possibilidade.
Segundo os autores acima, observa-se que para o processo diagnóstico ser mais fácil e menos dolorido, embora não deixando de ser sofrido, é importante um espaço para o paciente então vir a depositar seus sentimentos e emoções frente a sua doença, seu adoecer, sua vida e sua possível morte, necessitando a partir desse momento de sentimentos que acompanham o diagnóstico e o tratamento.
Soares (2007) postula quando pacientes recebem o diagnóstico de câncer de mama, para muitas mulheres, de um modo geral, a idéia de morte remete a sentimentos de perda dos cabelos, seio,despertando portanto,sentimentos dolorosos. Trata-se de uma espécie de dor psíquica que muitas vezes gera dores físicas ou criando uma dinâmica incompreensível para aquelas que lutam até o fim para amenizar seu sofrimento psíquico diante de uma doença com possível cura.
O câncer não é mais atualmente uma doença fatal, mas sim uma doença crônica, cada vez mais curável e tratável sempre que há um diagnóstico precocemente.

Soares (2007) enfatiza que para a mulher, as mamas representam a sexualidade e a maternidade, mas também possui uma representação simbólica de narcisismo,onde para ela, representa o símbolo da identidade corporal feminina e sentimento de auto estima.
A mama, como símbolo da sexualidade, quando danificada, altera a auto-imagem da mulher, surgindo sentimentos de inferioridade e medo de rejeição, sendo que quanto maior o investimento da mulher nesse órgão, maior será o sentimento de perda (SOARES, 2007).
De acordo com Soares (2007) ressalta que a mama confere à mulher sua identidade feminina que ao receberem o diagnóstico, esses valores ficam em suspenso, sem falar de angústia e medo da morte que permeia todo esse processo, ocorrendo uma diminuição da auto estima, sentimentos de vergonha e inferioridade, medo da rejeição do parceiro e evitação de relacionamento e quando a retirada parcial ou total da mama é comum a imagem corporal atual não coincidir com a imagem sentido e lembrada.
Maluf, et al. (2005, p.152) descrevem que o processo de luto pelo qual passa a mulher com câncer de mama, vem a ser um momento único no qual a mulher tem a possibilidade de entrar em contato com seus conteúdos internos e os chocar com a nova realidade, elaborando para então poder refazer- se psiquicamente, onde sua auto imagem através da nova realidade, que é o câncer de mama.

O luto é uma reação absolutamente sadia e faz parte do processo de desvinculação da libido do objeto perdido. Desta forma, a tentativa de interromper o luto é inútil ou até prejudicial ao sujeito, e a brusca substituição do objeto perdido tende a não ser aceita. O processo de desligamento é gradual e demanda um tempo que deve ser respeitado (GONÇALVES 2001).
Conforme Bromberg (1994): “O luto é um conjunto de reações a uma perda significativa, os sujeitos enlutados venham a apresentam reações psicológicas, fisiológicas e/ou comportamentais e passam por quatro fases”. Ou seja, a autora descreve a sintomatologia do luto, analisando assim os sintomas a partir de reações afetivas:
a) Entorpecimento: Choque e descrença diante do adoecimento, com duração de horas ou dias, ás vezes acompanhados por crises de raiva ou desespero, quando o indivíduo fica sem saber o que fazer no primeiro momento em que se recebe o diagnóstico.
b) Anseio ou protesto: Procura pelo objeto perdido, sofrimento psicológico e agitação física são características dessa fase,onde os indivíduos percebem de forma mais consciente a perda, e ansiosamente buscam pelo objeto perdido,quando surge a raiva contra si e contra as pessoas.
c) Desespero: Período mais doloroso, onde há reconhecimento da irreversibilidade da perda, instala-se a depressão, onde existe o afastamento de atividades e das pessoas.
d) Recuperação: Reorganização da vida, onde a depressão e apatia dão espaço a sentimentos mais favoráveis, momento em que surge uma nova identidade para favorecimento do estabelecimento de novas relações de amizades e resgates de antigos laços.
Segundo Parkes (1998), existem três componentes no processo de elaboração do luto:
1- O individuo ocupa-se com pensamentos sobre “aquilo” que foi perdido, e uma derivação da permanência da procura do objeto perdido.
2- Há difíceis e dolorosas lembranças; as da experiência da perda, que precisam ser elaboradas a preocupação necessária mesmo que a perda não totalmente aceita como irremediável.
3- Existe uma tentativa de encontrar um sentido de perda, para aderi-la no conjunto de crenças sobre o mundo, ou modificá-las quando necessário.
Soares (2007) ressalta que quando a paciente vem a receber um diagnóstico não maligno, a sensação de alívio pela morte é grandiosa, porém com a confirmação do câncer de mama, a paciente passa por várias fases de conflito interno que oscilam em fases de negação da doença, no qual a mesma choca-se com a notícia, talvez a possível perda do seio e até a fase de aceitação, onde há aceitação do diagnóstico de câncer de mama e a procura pelo tratamento

Segundo Kluber Ross (2005), em sua vivência estudou a dor psíquica em pacientes, terminais, portadores de doenças crônicas, onde os mesmos descreviam suas fantasias e medos sobre a doença e morte, categorizando a dor psíquica em cinco estágios:
Primeiro estágio: negação e isolamento - A negação funciona como um pára choque depois de notícias inesperadas ou chocantes, fazendo com que o individuo se recupere com o tempo. Neste período, a reação do paciente pode ser sintetizada numa exclamação “Não, eu não! Não pode ser verdade! A negação neste estágio é uma forma de defesa, usadas por quase todas as mulheres com câncer de mama. É uma necessidade logo após o conhecimento da doença, sendo substituída mais tarde pelo isolamento.
Segundo estágio: raiva - Neste estágio descreve-se a revolta, no qual é difícil de lidar com a raiva, devido a mesma se propagar em todas as direções, projetando-se no ambiente, muitas vezes sem razão plausível.


Minha Monografia apresentada ao curso de especialização em Psicologia e Saúde: Hospitalar pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Continuação amanhã...

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