sexta-feira, 3 de junho de 2011

Psicologia e Paciente Ostomizado




Beatriz Guedes de Castro
CRP: 06/93057

Sílvia Cristina Alves Andretta
CRP 06/545397



Andretta( 2010) menciona que os tumores gástricos de importância clínica correspondem a lesões tanto benignas como malignas. A maioria se trata de carcinomas primários que derivam das glândulas da mucosa e se propaga através das vias linfáticas, o que se sucede em quase dois terços dos pacientes submetidos à exploração cirúrgica e os que já haviam feito estudos anatomopatológicos do tecido linfático.
O câncer gástrico, em índices de mortalidade são muito variáveis de país para país.
Para Lawrence e Zfass (1995) “a cirurgia é o único método curativo eficaz no
tratamento primário do câncer gástrico”. Apesar dos índices globais de sobrevivência se apresentarem muito baixos, importantes avanços tanto no tratamento cirúrgico como no pós-cirúrgico, tem conseguido ao longo dos anos, fazer com que as cirurgias gástricas aumentem a qualidade e o tempo de vida do paciente.
A raiz etiológica da palavra câncer, segundo Grzybowski, et al (2008) menciona que o termo câncer vem do grego “Karkinos” que tem seu significado como “carangueijo” ou “garras”, assim o câncer é uma doença causada pela proliferação de células que, ao invés de morrer de morte natural, desenvolve-se sem cessar.
O grego Hipócrates foi o responsável pelo nome da doença em 400 a.C, onde utilizou a palavra câncer em latim para determinar um tipo de tumor (BIZZARI, 2001).
Landskron (2008) refere que Galeno aprofundou os estudos de Hipócrates e caracterizou o carcinoma como uma doença incurável, proveniente de um tumor com crescimento descontrolado, sendo que a origem da doença e os mecanismos envolvidos no desenvolvimento dos tumores continuam desconhecidos durante milênios, mas a sentença de morte permanece presente.
Volich (2000) ressalta que Hipócrates via o homem como uma unidade organizada e entendia a doença como uma desorganização do estado de equilíbrio decorrentes dos fluidos do corpo.
Como Hipócrates, também Galeno pensava que os diferentes perfis comportamentais pudessem ser explicados pelos desequilíbrios nos fluidos do organismo: o excesso de um desses humores era considerado causa do câncer, onde desde o inicio representou uma doença sistêmica ou metabólica que deveria então ser tratada com terapias sistêmicas e não locais (BIZZARI, 2001, p30).
Tonon et al. (2007) menciona em contexto atual, onde câncer configura-se um dos principais problemas de saúde pública mundial. É uma doença crônico-degenerativa que afeta várias dimensões da vida humana e causa importante impacto econômico na sociedade, necessitando de tratamento especializado prolongado e oneroso. Além disso, é responsável pela redução do potencial de trabalho humano e perda de muitas vidas. No entanto, as evidências em torno do câncer, onde suas causas internas e externas permeiam numa existência de um fator genético importante no qual o indivíduo torna-se suscetível à doença e outros fatores (agentes cancerígenos) acabam contribuindo para o desencadeamento da doença.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer, INCA (2010) as causas de câncer podem ser externas ou internas ao organismo, estando inter relacionadas, direcionando as causas externas a relação ao meio ambiente, hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural, e as causas internas, na maioria das vezes, são geneticamente pré determinadas, ligadas à capacidade do organismo de se defender de agressões externas.
Simonton (1987) menciona em detalhes como se apresenta o processo de desenvolvimento do câncer.
Um câncer começa com uma célula que contém informações genéticas incorretas de modo que se torna incapaz de cumprir as funções para as quais foi designada. Se esta célula produz outras células com a mesma construção genética incorreta, então um tumor começa a ser formado, composto de uma massa dessas células imperfeitas. Normalmente, as defesas do corpo e sistema imunológico reconhecem estas células e as destroem. No mínimo, o que acontece é que elas são cercadas para que não se alastrem. No caso das células malignas, mudanças celulares suficientes acontecem para que elas possam reproduzir-se rapidamente e começarem a se introduzir no tecido adjacente ( SIMONTON, 1987 p. 39).
Aureliano (2006), refere à noção de uma doença generalizada com manifestações em locais específicos perdurou por quase vinte séculos até a descrição do sistema linfático, em início do século XVII, quando atribuiu o câncer a diversos distúrbios da linfa. Neste momento, suspeitou-se que o mal também pudesse ser contagioso, levando o indivíduo a exclusão e a discriminação, sendo recusado em vários hospitais.
O autor acima postula que a partir do século XVII, surgiram às teorias da doença restrita a um determinado tecido do organismo, formulando, assim, o conceito de disseminação a distância de metástase que em grego significa “mudança de lugar”, constatando também que o sangue e a linfa eram os veículos através dos quais a doença se propagava. A sensação de importância diante da doença é produzida por esse caráter migratório (AURELIANO, 2006).
Aureliano (2006), postula que foi somente a partir da metade do século XIX que se descobriu que o câncer resulta do desenvolvimento anormal de células, deixando de ocupar o lugar de ser apenas mais um dentre as doenças que desafiam a ciência. Desde as constatações de Hipócrates sobre a doença até a verificação de sua localização em células transcorreram 2400 anos.
O câncer é considerado uma doença influenciada por diversos fatores que compromete a vida do doente a curto ou ao longo prazo onde caracteriza-se por ser uma doença que impõe mudanças significativas em torno da vida do individuo que relaciona-se com ela, assim ocasionando alterações físicas, psicológicas, emocionais e sociais no curso do processo saúde – doença, impulsionando o doente para novas formas de enfrentamento do cotidiano.
A palavra câncer é utilizada para descrever um grupo de doenças que se caracterizam pela anormalidade das células e pela sua divisão excessiva, no entanto vem a existir uma grande variedade dos tipos de câncer provavelmente com uma etiologia multifatorial, onde para que a doença se manifeste, parece ser necessária uma operação conjunta de vários fatores como: predisposição genética, exposição a fatores ambientais de risco, determinados vírus, algumas substancias alimentícias, entre outros (DE CARVALHO; MAGUI, GIMENES, 2000, p.47).
Andretta (2010) postula que nossa sociedade valoriza a boa apresentação estética corporal e coloca em alto valor no asseio e ausência de odor corporal. Muitas pessoas adquirem comportamentos de excessiva limpeza como forma de aceitação frente ao grupo social. Muitos ostomizados tendem a se isolar por sentirem-se convencidos de que não serão aceitos no grupo e acabam antecipando um medo de rejeição social.
Um estoma de acordo com a autora acima é temporário quando ele faz parte de um tratamento e existe a possibilidade de reconstrução do trânsito intestinal. Quando ele é definitivo, houve ressecção, não havendo a mesma possibilidade de reconstrução.
O uso da bolsa modifica a condição física e psíquica do paciente que agora tem que se adaptar a uma nova situação. Esta se reflete em reavaliar sua imagem corporal, social e sexual. Seu estado emocional passa por alterações significativas, podendo haver estágios de depressão, negação e mania.
A preocupação estende-se ao meio social com motivos concretos que limitam a
reincersão da pessoa em seu meio.
Suas funções sexuais sofrem alterações orgânicas devido a lesões do sistema
nervoso autônomo, o que gera fantasias e medos, além de insegurança e inibição sexual.
O paciente precisa descobrir um novo sentido para sua vida com um novo órgão e reaprender habilidades para a sua reincersão social e para sua vida sexual. É um momento onde se instaura um grande conflito psíquico; regras, conceitos e pré-conceitos precisam ser reavaliados e reinceridos na vida do paciente.

Todo este trabalho é melhor fixado se houver a participação da família ou de
pessoas significativas na vida do paciente. Entendendo as mudanças eles também podem auxiliá-lo nesta nova etapa.
Observa-se, diante do exposto acima, que o papel da psicoterapia para esse paciente é de suma importância no que tange a suas reavaliações quando se encontra exposto a situações inesperadas e adversas, desde a confirmação dos procedimentos cirúrgicos e póscirúrgicos(uso da bolsa de ostomia), até a elaboração e aceitação de sua vida com um novo órgão.
Desta-se, porém, que todo este processo torna-se penoso e bastante difícil, pois
esbarram em questões que refletem diferentes tipos e históricos de aprendizagem necessitando que haja um atendimento individualizado e particularizado a cada paciente,anteriormente a uma inserção no grupo ou meio social.
Sendo assim, penso que a psicologia pode contribuir com seus conhecimentos na elaboração e resignificação da vida; possibilitando uma melhor recuperação no pósoperatório,partindo do princípio de que a bolsa não é sinônimo de morte e sim de vida.

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