domingo, 22 de maio de 2011

STRESS E DOENÇAS CRÔNICAS



Lucia Emmanoel Novaes Malagris

Presidente da Associação Brasileira de Stress



As doenças crônicas têm se mostrado como muito preocupantes na medida em que vêm se revelando como responsáveis por alto índice de mortes no Brasil e no mundo. Tais doenças têm em sua etiologia uma série de fatores de risco, dentre eles o sedentarismo, a alimentação inadequada, o tabagismo e o stress emocional. A longevidade também influencia a presença dessas doenças, pois as pessoas estão durando mais e ficando, portanto, mais vulneráveis às mesmas. A longevidade se soma a um estilo de vida pouco saudável e a predisposições genéticas individuais para explicar o desenvolvimento das doenças crônicas.

Embora os fatores de risco devam ser considerados em conjunto para compreender e tratar uma doença crônica, o stress emocional deve ser enfatizado para que seja possível um esclarecimento do papel do mesmo nesse tipo de doença. O paciente necessita, a princípio, entender a importância do stress na doença que ele apresenta. Uma linguagem clara, objetiva e bem adaptada para o tipo de paciente precisa ser utilizada para que o esclarecimento seja real. Tal compreensão possibilita que o paciente tenha uma boa adesão ao tratamento, de modo a aceitar a implementação de mudanças no seu dia-a-dia. As alterações psicofisiológicas e os efeitos no sistema imunológico, decorrente de um stress crônico devem ser explicadas ao paciente, buscando-se relações claras, dentro do possível, com a doença que o mesmo possui.

É importante investigar junto com o paciente o momento de surgimento da doença e a situação de vida na época. Buscar entender se o stress esteve presente nesse momento. Assim também devem ser investigadas as épocas das recidivas e buscar entender se haviam fatores estressores presentes na época. Observam-se relatos de pacientes com doenças crônicas que revelam a associação de fases de vida estressantes com o aparecimento e/ou recidivas de doenças desse tipo. Além disso, se o stress emocional se mantém, ele também tem importante participação na manutenção e/ou agravamento da doença crônica, pois as alterações psicofisiológicas características do stress continuam atuando e exercendo seu papel em um organismo já prejudicado.

Também é importante mencionar que saber-se portador de uma doença crônica, dependendo da interpretação dada ao fato, já pode se constituir em um estressor que ajuda na manutenção do stress e de suas conseqüências no organismo, o que inclui a doença já desenvolvida. Logo, é importante investigar como a pessoa está interpretando a doença, suas crenças sobre o tratamento, sobre a instituição onde se trata e sobre o profissional que o atende.

O papel da doença na vida da pessoa também deve ser identificado, pois para algumas pessoas a doença acaba trazendo uma “falsa vantagem” que o leva a não adesão ao tratamento, já que o mesmo eliminaria tal vantagem. Exemplo disso poderia ocorrer com uma pessoa hipertensa que, depois do diagnóstico, passou a ter toda a atenção da família a qual se mostra preocupada com sua saúde e passou a demonstrar uma preocupação que antes não ocorria. Essa pessoa, caso sofresse de carência afetiva, poderia ver vantagem em ser hipertensa em função da atenção conquistada a partir da mesma. Caso se identifique esse tipo de situação o terapeuta precisará com habilidade para que o paciente tenha uma visão mais realista da doença e de seus prejuízos.

Outro importante ponto é que a doença crônica exige uma série de mudanças em hábitos de vida que podem trazer um sentimento de que o tratamento é algo punitivo, ao invés de se constituir em melhoria da qualidade de vida. Esse sentimento de punição está associado à perda de reforçadores, ou seja, muitas vezes o doente crônico precisa deixar de ter algumas atividades prazerosas para ele e precisa passar a ter atividades vistas como desagradáveis. Exemplo disso é o caso do hipertenso que não pode mais comer sal e precisa fazer atividade física. Dessa forma, o indivíduo não consegue ver vantagens no tratamento e não adere ao mesmo, comportamento que mantém e/ou agrava a doença e gera mais stress e sofrimento. Além disso, tal comportamento de não adesão pode trazer culpa e mais stress. Importantes se mostram estratégias de intervenção para o controle do stress que incluam mudança de estilo de vida e uma visão mais adaptativa sobre o tratamento, buscando-se melhor adesão e, assim, melhor qualidade de vida.

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