sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pânico...










O PÂNICO COMO PATOLOGIA DO COMPORTAMENTO E COMO AJUSTAMENTO CRIADOR

Esse capítulo mostra, sobretudo, a essência desse trabalho, ou melhor, tenta mostrar o olhar gestáltico frentes as “patologias” sugeridas por outras correntes, no caso desse capítulo específico, a “patologia pânico e a corrente comportamental entre outras que aceitam o diagnóstico de doença.
A síndrome do pânico é analisada por diferentes abordagens psicológicas, havendo explicações diversas para as causas desse “transtorno” e propostas diferentes de intervenções psicoterápicas. O que, por exemplo, para as correntes comportamentais é uma anomalia comportamental, doença ou patologia, nós gestaltistas tratamos como neurose, como situações inacabadas produzidas por interrupções do contato, ou uma forma, um ajustamento necessário do indivíduo ao campo organismo/ambiente frente ao novo, ao inesperado, que se dá na fronteira de contato ou na interrupção que se dá quando um dado se apresenta na fronteira.
Tratar os ajustamentos como doença seria a mesma coisa que tratar o indivíduo igual a outras pessoas, como se ele fosse formatado, padronizado e não estivesse em um campo que se altera a todo o momento. E, essa alteração passa a ser um processo novo, sem precedentes e que necessita de um movimento em direção a um crescimento, que pode significar também separar, dividir, mas que se acrescenta num todo do indivíduo.
O livro “Manual de diagnósticos e estatísticas de transtornos mentais” (DSM-IV-TR), tido como referencial para muitas correntes, cita os transtornos mentais:

“Como síndromes ou padrões comportamentais ou psicológicos clinicamente importantes, que ocorrem num indivíduo e estão associados com sofrimento ou incapacitação ou com um risco significativamente aumentado de sofrimento, morte, dor, deficiência ou perda importante da liberdade”.(DSM-IV-TR, pag. 27) .

Já em relação ao transtorno de pânico, o DSM-IV-TR cita como:

“Ataque de pânico é representado por um período distinto no qual há início súbito de intensa apreensão, temor, frequentemente associados com sentimento de catástrofe iminente. Durante esses ataques, estão presentes sintomas tais como falta de ar, palpitações, dor ou desconfortos toráxicos, sensação de sufocamento e medo de enlouquecer ou de perder o controle”. (DSM-IV-TR, pag. 419)

Como foi citado anteriormente, a partir do momento que se olha um indivíduo ou que se dá ao indivíduo um diagnóstico, passamos a desconsiderar sua biografia, suas individualidades, seu contato no campo organismo/meio, pois esperamos desse, comportamentos classificados, anteriormente a sua concepção, desconsiderando sua capacidade, suas possibilidades de interação ao meio, frente ao novo e inesperado.
PHG refere os indivíduos da seguinte forma:

“não há uma única função, de animal algum, que se complete sem objetos e ambiente, que se pense em funções vegetativas como alimentação ou sexualidade, quer em funções perceptivas, motoras, sentimento ou raciocínio. O significado da raiva compreende um obstáculo frustrante; o significado do raciocínio compreende problemas de prática. Denominemos esse interagir entre organismo e ambiente função “campo organismo/ ambiente”, e lembremo-nos de que qualquer que seja a maneira pela qual teorizamos sobre impulso, instintos etc., estamos nos referindo sempre a esse campo interacional e não a um animal isolado” (PHG,1997, pag.42).


Compactuo nesse sentido com o autor supracitado, de que não podemos desconsiderar o campo organismo/ambiente, dessa forma não podemos estudar ou não podem os estudos desconsiderar o ambiente social em um favorecimento do físico, qualquer referência a um indivíduo ou “patologia” de um indivíduo devem considerar seu campo e os fatores que interagem consigo: socioculturais, animais e físicos.
Tendo este capítulo sua concepção fundada com objetivo de mostrar o pânico como um ajustamento criativo, processo natural de qualquer indivíduo frente à função contato/novidade, que pode rejeitar, superar ou assimilar o novo, como se refere PHG:

“Ao imaginar um animal que perambula livremente num ambiente vasto e variado, percebemos que o número e a extensão das funções-contato têm de ser imensos, porque fundamentalmente um organismo vive em seu ambiente por meio de manutenção de sua diferença e, o que é mais importante, por meio da assimilação do ambiente à sua diferença: e é na fronteira que os perigos são rejeitados, os obstáculos superados e o assimilável é selecionado e apropriado. Bem o que é selecionado e assimilável é sempre o novo; o organismo persiste pela assimilação do novo, pela mudança e crescimento”. (PHG, 1997, Pag.44).

Sendo assim, podemos entender o “pânico” como um acidente ou interrupção num processo de contatar, por exemplo: a jovem citada nesse caso, que para se formar na faculdade, significa fazer sem sua mãe, cuidar da filha significa se dar conta que já é mãe, que tem que exercer o papel que antes era de sua mãe, de protegida, passa a ter que proteger.
Dessa forma, inibe seus desejos, para que possa corresponder a um pedido de sua mãe, passando a evitar momentos e lugares que possam estimular a separação ou crescimento, fechando-se num processo rígido de controle, evitando situações novas, arriscadas, evitando amigos e lugares que possam confrontar com o novo.
Portanto, aqueles “sintomas’ citados no DSM-IV-TR seria sim, o indivíduo se ajustando ou “interrompendo-se”, que é o ajustamento criativo ou processo de contatar, inibindo-se frente a tudo que é novo, ameaçador diferente da sua rigidez e que possam vir motivar a separação da mãe.
Para Müller Granzotto esse processo de interrupção configura os ajustamentos neuróticos. Segundo ele:

“No caso da configuração dos ajustamentos neuróticos, a interrupção diz respeito ao surgimento de um dado (ou estímulo) que representa “perigo” ou “frustração inevitável” para alguns dentre os excitamentos necessários no processo de contato”. (MÜLLER- GRANZOTTO,1997, pag.253.)



Assim, para a gestalt terapia o “pânico” ou a interrupção dos ajustamentos criativos seria uma interrupção no processo de contato (ajustamento neurótico), mas especificamente, essa interrupção tem haver com o surgimento de uma figura ou dado (estímulo), que represente “perigo” ou “ameaça”.

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