domingo, 14 de agosto de 2011

A criança com asma e a doença psicossomática



Moura (2001) verificou que o aleitamento materno é muito importante na prevenção da asma, e constatou que um grande percentual (aproximadamente 50%) das crianças que sofriam de asma brônquica recebeu leite de vaca antes do sexto mês de vida e foram desmamadas completamente antes de completar o primeiro ano.

Winnicott (1982) afirma que a relação do bebê com a mãe durante a orgia da amamentação é intensa, incluindo a excitação da expectativa, a experiência da atividade durante a amamentação, bem como a sensação de gratificação, com o repouso acalmando as tensões resultantes da satisfação, facilitando o desenvolvimento emocional, visto que a mãe é tida como provedora das necessidades físicas, de segurança, calor e imunidade. Se a mãe tiver êxito na sua relação com o bebê, será estabelecida uma satisfatória amamentação, promovendo um desenvolvimento emocional saudável e uma existência independente.

A mãe que continuamente põe de lado as suas necessidades pessoais para satisfazer a dos seus filhos pode aparentemente estar dando amor, mas pode mascarar um egoísmo intenso, uma baixa auto-estima, o medo de conflitos e até mesmo uma rejeição inconsciente (Briggs, 1986).

Schappi (1987) refere que a amamentação materna por mais tempo e de forma amorosa se apresenta como a melhor forma de manter a saúde da criança. Destaca como o contato pessoal mãe e filho contribui para uma interação social e o desenvolvimento do estilo pessoal da criança. O estresse e a ansiedade da mãe podem impedir a amamentação, provocando um efeito contrário, podendo desenvolver dificuldade nas capacidades cognitiva, sensorial e motora.

Gofeto (1991) publicou as anotações das sessões psicoterapêuticas referentes à história de vida de uma criança asmática e a relação familiar. A mãe relata que tinha problemas conjugais desde a gravidez e que quando separou do marido pela primeira vez, sofreu crises depressivas. Não tendo suportado a separação, reconciliou-se. O pai da criança quando alcoolizado tornava-se agressivo. O parto foi demorado e a criança nasceu bem. A mãe relatou que no princípio sentiu raiva da filha, pois queria um menino. A criança não foi amamentada no seio, a mãe não tinha leite. Nos primeiros meses de vida a criança chorava muito com dores abdominais intensas e sempre com sono muito agitado. A mãe descreve a criança como submissa, introvertida, que tinha poucas amigas e era passiva nos jogos e brincadeiras. A mãe da paciente procura o atendimento psicolterápico quando a criança está com 10 anos e meio e suas crises de asma são constantes. No primeiro encontro demonstra sua baixa auto estima quando pega o boneco e fala “como ele é mal feito…é feio”.

No trabalho de ludoterapia demonstra através do desenho sua necessidade de uso de uma máscara para não respirar os venenos ambientais e conforme é trabalhado a criança consegue colocar sua insatisfação com a vivencia familiar através do choro, assim consegue liberar seu ódio, sua agressividade, melhorando o quadro clínico da asma. Durante o tratamento outras crises de asma acontecem quando os conflitos geram ansiedade na área do relacionamento interpessoal.

Kreisler (1987) identifica que devido às desordens psicossomáticas o bebê poderá desenvolver patologias mais precoces, provocadas por condutas alimentares, envolvendo constantes intervenções interdisciplinares. Em seus estudos, observou distúrbios funcionais de repetição e de caráter lesionais no caso de doenças asmáticas complicadas por infecção ou insuficiência respiratória. Para Kreisler, esta patologia somática severa aparece devido a frustrações graves, uma interação crônica vazia, e a separações repentinas entre a mãe e a criança.

Peçanha (1997) realizou uma pesquisa com dez crianças asmáticas leve, de 7 a 8 anos e suas famílias, que foram comparadas com outras dez crianças sem asma, ou problemas alérgicos, e suas respectivas famílias. Ambos os grupos encontravam-se emparelhados quanto à idade das crianças, a sua posição na dinâmica familiar, à escolarização, à idade dos pais e ao grau de escolarização da mãe.

O exame compreendeu: Teste do Desenho Colorido da Família, e Teste das Fábulas de Düss, realizados pela criança; Entrevista Familiar Estruturada, respondida pelos pais. Os resultados foram apoiados pelas teorias pertencentes à psicossomática e à abordagem sistêmica. O aparecimento da primeira crise asmática estava associado à falta de habilidade da criança para o enfrentamento de novas situações.

Tal dificuldade segundo Peçanha existiu pelo fato da própria família não saber lidar com circunstâncias que envolvem mudanças, sendo essas vivenciadas com intensa ansiedade.

A análise dos dados foi feita de forma quantitativa e qualitativa. Foram encontradas diferenças significativas em todos os padrões transacionais examinados nas famílias das crianças com asma, quando comparado ao grupo controle. O aparecimento da primeira crise apareceu associado à dificuldade de enfrentar situações novas, e à dificuldade da família de lidar com situações de mudança, vivenciada com muita ansiedade e conflito.

As crianças com asma apresentaram muitos problemas de comportamento e dificuldades emocionais para vivenciar situações transacionais com suas famílias. Suas famílias mostraram mais disfuncionais e a asma da criança aparecia como uma forma de não enfrentarem seus próprios problemas.

Fonte: http://www.psicologiananet.com.br/psicologia-hospitalar-a-crianca-com-asma-e-a-doenca-psicossomatica/2706/

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